domingo, 15 de março de 2015

To de saco cheio

É difícil ser criativo com a obrigatoriedade de tantos padrões. É difícil ser criativo sem saber criar. O que eu tenho medo é de ter pensado que sabia tanta coisa e agora perceber que na verdade não sei nada. Tenho mais medo ainda de ter perdido a minha essência ao longo do caminho. Porque eu sempre achei que lidar com padrões era como canalizar um rio: você tira a essência de um rio quando o canaliza, tira suas curvas, tira sua natureza, tira seu aspecto vital. 
E aí na escola você aprende um padrão de escrever, porque o texto dissertativo é assim, tem a introdução, tem a argumentação e tem a conclusão. Se você não escrever sob esse parâmetro, meu amigo, sinto muito, mas você escreve errado. Aí na faculdade você aprende que tem que ter o brainstorm, tem que fazer o rough, tem que vetorizar, tem que ter tratamento de imagem, tem que ter arte final. Se você não fizer o rough, cara, você é um publicitário incompleto. Daí no trabalho você percebe que tem que ir sempre bem arrumado, dar bom dia e ser simpático com todo mundo a todo instante, ser pró-ativo, ser amigável, saber fazer tudo. E se você não fizer isso, nunca crescerá no seu emprego, até porque as pessoas têm um obsessão inexplicável por dar e receber bom dia.
Na vida você é levado a pensar que se você não tiver um emprego que te deixe rico você será um fracassado. Se você não se mudar da cidade em que nasceu, você é um acomodado. Se você prefere ter uma vida simples no campo, você é um atrasado. Se você não tem muitos amigos, você é antissocial. Se você é tímido, trate logo de perder a timidez. Se você 
Ninguém percebe.
Mas a vida toda você é induzido a fazer o que quer que seja. A vida toda você navega por um rio canalizado. Se quer criar, crie dentro dos padrões. Dificilmente teremos originalidade. É tudo cópia e eu, honestamente, já to de saco cheio com isso.

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

O bater de asas da borboleta

A vida é uma rede intrincada de destinos que se batem e se modificam. O bater de asas da borboleta no Japão, o dobrar da nota, o escrever e apagar. O que quer que eu faça, não terei controle sobre minhas ações depois de concluídas ou modificadas, ou mesmo abandonadas. Mesmo se eu desistir, os efeitos virão. É como se houvesse um tipo de energia que liga todos nós. A pergunta é: como controlar uma linha ou várias linhas finas que ligam bilhões e bilhões e bilhões de seres vivos e a Terra? Não se controla. Não se prevê. É uma rede de energia que se altera o tempo todo. Que está aí desde os primórdios, e o que aconteceu lá atrás permanece influenciando nossas vidas agora e será sempre assim. Eventos ancestrais e eventos novos têm o mesmo nível de influência, e você tem que se conformar com o fato de que não pode ter controle sobre isso, e é limitado demais para prever os efeitos. Imagine se você pudesse testar os efeitos de cada escolha como naquele filme Efeito Borboleta. É essa a ideia, só que na vida real você só pode escolher uma vez.

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Sem o peixe

Sem minhoca
pescador não pesca
Sem a ponta
o anzol não fisga
Sem o peixe
de que serve a vida?
De que serve a vida?
De que serve a vida?

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Eu quero você

Eu quero você
Numa dessas noites quentes
Que se olha o céu e as estrelas estão lá
E aquele vento que refresca
Trazendo felicidade
Mesmo que o dia acabe

Nessas noites na varanda
Na rede, olhando a rua
Conversando qualquer coisa
Satisfeitos com o dia
Descansando
Certos de que outro dia virá

domingo, 3 de agosto de 2014

A expressão do não - ter - o - que - fazer

Sem fundo simbólico, sem conotação, só denotação, é o que é, fiz porque quis, não quero dizer nada com isso, não quero mudar nada com isso, não quero atingir ninguém, não quero inovar, não é pra ter eco, não é pra usar, não serve pra nada.

domingo, 6 de julho de 2014

Silêncio

Nem sempre o silêncio é falta do que dizer
às vezes ele significa dizer demais.

domingo, 1 de junho de 2014

É pensando nela

Às vezes vem uma tristeza do nada por alguma coisa que nem sei o quê. É como chorar por outra vida. É como odiar o mundo e não entender porque estou nele. E aí me dá vontade de juntar uma ou duas coisas e ir embora, também nem sei pra onde, mas dá vontade. Fugir das pessoas, fazer de conta que não existem nossas instituições, nossa moral, nosso bom costume, nossa educação e hipocrisia. Posso me sentir mal-agradecida, porque afinal de contas eu tenho muita sorte. Mas também posso me revoltar porque tenho meu livre arbítrio, e admito: minha vida está boa, mas eu não quero assim. Quero boa, mas boa de outro jeito.
Então eu me vejo vivendo, e feliz, por uma esperança de tolo, ou não. Procurando uma forma de crescer todos os dias, por amor. E penso no passado e tudo o que deu e que fiz de errado, e muitas vezes não acredito que aconteceu. Porque a memória dos homens é fraca, e o passado anuviado fica parecido com um sonho (ou um pesadelo), e se é ruim posso escolher o esquecimento. Facilmente.
Mas agora posso continuar. É outro dia e morreram as dúvidas do meu coração. Eu sei o que ele quer. E, apesar de ainda precisar de um meio de sustentar minha existência, eu já tenho um meio de sustentar minha vontade de acordar todos os dias. É pensando nela.