quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

No olhar

Eu queria ter a sua bondade
e metade da sua força de vontade

Queria tanto ser uma boa pessoa
e nunca perder a fé
manter a calma
e ter coragem no amor

Eu queria mesmo ter sempre esse jeito de criança que você tem
sempre esse amorzinho infantil
essa doçura que se vê no olhar

Queria não ter me tornado tão sutil e prática
mas o desamor me consumiu
a pressa domou meu coração

Queria ter me prendido à simplicidade assim
e nunca sofrer de inquietação ou de arrependimento

Queria continuar com fé no amor
e fazer dele minha pauta da vida
sem medo e vergonha
ser simples, amar o que é simples
e não me preocupar
com o que sei que tem solução

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Nada

De repente me sinto um nada
pra quem um dia foi meu tudo.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Agonia

Minha criação me ensinou a ter medo de tudo e a achar que tudo pode dar errado. Às vezes me sinto tão pressionada que acho que não posso errar nunca. Às vezes sinto que o mínimo erro me torna a pior pessoa do mundo. Sinto que chegar um pouco bêbada em casa me custaria 20 anos de liberdade. Sinto que ter ciúme demais ou querer que alguém suma da minha vida é crueldade da minha parte, quando na verdade todo mundo sente isso. Parece que ser meio louca e desconfiada me mandará para o inferno. Mas o que se pode esperar de alguém firmemente encoleirada? Eu vou até onde a medida da coleira me permite. E quando o nó na minha garganta aperta demais, eu volto, eu lato um pouco, mas não adianta rosnar, cão que ladra não morde. Basta uns chutes na traseira e eu volto com o rabo entre as pernas. Mosca morta. Anêmica. Entediante. Merda de vida. 
É como manchas de cloro na roupa. Uma gota e está manchada pra sempre. Um erro estúpido e sou mentirosa pra sempre, e sou irresponsável pra sempre, e estou errada pra sempre. Não sei se é esse o motivo de eu ser tão presa ao passado e me arrepender tanto das escolhas que fiz. Sou idiota hoje, mas já fui pior um dia. E por não ser mais tão idiota me julgam por ser fria, por ser seca. Já tomei no cu 1 milhão de vezes, chega uma hora que a gente cansa né.
Mas parece que não importa o que eu faça, nada muda, continuo presa na minha caixa de fósforo, não saio do lugar. Quando e onde se acha a experiência e a esperteza de que tanto falam? Meu tamanho físico não é do mesmo tamanho da minha força de vontade. Se eu quero pilotar uma moto, eu vou pilotar uma porra de uma moto e foda-se o que vocês dizem sobre o meu tamanho e a finura das minhas pernas. Eu quase desisti, mas é uma coisa de que gosto, porque é a maior sensação de liberdade do mundo andar de moto.
E liberdade eu não tenho muito. Minha liberdade vai até onde alcança minha coleira emocional. Me chamam fria e seca, mas acha que eu teria coragem de transtornar um coração que ama incondicionalmente? Sabem de onde vem um amor incondicional, certo? E sabem que um amor incondicional às vezes beira à super-proteção? E a super-proteção brota na mesma terra onde brota o medo de tudo.
E esse tipo de coisa realmente cria uma pessoa besta e despreparada, e a mosca morta, e inexperiente, como eu. A culpa é minha? Devo pagar eternamente por isso? Agradeço toda preocupação, mas isso me sufoca muito, e me deixa insegura e hesitante diante da vida, porque o modo como falam dela faz parecer que é tudo difícil e ruim e amargo e perigoso e horrendo.
Você prende um rouxinol na gaiola e logo ele para de cantar. Isso não é pra deixar pra lá. Eu nunca deixei isso pra lá. Isso está dentro de mim o tempo todo me sufocando e me reprimindo e comprimindo lá dentro, lá no fundo, lá no canto, lá no escuro, martelando na minha cabeça e me comprimindo mais e mais, e as paredes se fechando, e as portas todas trancadas, e tudo está trancado. Quando isso vai parar?

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

O velho e o moço

- De onde você veio? - perguntou o embarcador com sua curiosidade sem compromisso, mastigava um pedaço de mato entre os dentes podres.
- De um lugar onde todos só dizem "não" o tempo todo e para tudo.
O embarcador largou o mato por uns segundos e me observou como quem observa uma criança mimada.
- Todos lá apenas querem mandar, e não enxergam nem um palmo a frente de seu próprio nariz, como se minha vida tivesse surgido apenas para lhes obedecer - continuei, apesar de sua expressão afetada.
- E por que diabos veio aqui? Por algum momento achou que este trapo velho o levaria para um mundo novo onde todos vivessem felizes a cuidar uns dos outros? - ele viu minha cara de espanto com sua súbita explosão, e parou um instante apontando a embarcação de aparência fantasmagórica - O que acho mais interessante é o fato de que as pessoas vivem a reclamar das outras que cuidam de suas vidas, mas quando elas não o fazem, vocês continuam reclamando! E daí que não fazem o que você quer? Você também nem sempre faz o que eles querem... É tudo uma questão de perspectiva, apenas isso. Volte para o seu berço de ouro, meu jovem, aqui não é lugar para você.
Eu já estava com tanta raiva desde que chegara ali, e agora isso. Olhei aquele velho de barba sebosa e embaraçada, e entre elas uns dentes tão podres que se pareciam com a madeira do seu barco de pesca. Eu fiquei com raiva porque aquele sujeito achava que sabia muito sobre mim. Berço de ouro? Ora, que filho da puta! E pensar que ele se parecia com o meu Deus dos pensamentos, como aquele tipo de Deus que se mistura entre os homens e as pessoas humildes.
- Você está subestimando a vida, velho. Não se tira coisas boas apenas de coisas bonitas.
- E não é que o garotinho é um poeta! Volte para sua lagoa, vá.
- Não vou voltar para lá. Eles não me deixam ver o mundo, a vida toda preso em uma caverna observando sombras! 
- E eu a vida toda preso em um barco observando água e mais água sem fim, quanto tempo acha que levei para chegar aqui? Acha que valeu a pena dar a vida a isso? Veja minha aparência, que orgulho teria um pai de um filho assim?
Eu o analisei. O velho tinha pai.