domingo, 15 de março de 2015

To de saco cheio

É difícil ser criativo com a obrigatoriedade de tantos padrões. É difícil ser criativo sem saber criar. O que eu tenho medo é de ter pensado que sabia tanta coisa e agora perceber que na verdade não sei nada. Tenho mais medo ainda de ter perdido a minha essência ao longo do caminho. Porque eu sempre achei que lidar com padrões era como canalizar um rio: você tira a essência de um rio quando o canaliza, tira suas curvas, tira sua natureza, tira seu aspecto vital. 
E aí na escola você aprende um padrão de escrever, porque o texto dissertativo é assim, tem a introdução, tem a argumentação e tem a conclusão. Se você não escrever sob esse parâmetro, meu amigo, sinto muito, mas você escreve errado. Aí na faculdade você aprende que tem que ter o brainstorm, tem que fazer o rough, tem que vetorizar, tem que ter tratamento de imagem, tem que ter arte final. Se você não fizer o rough, cara, você é um publicitário incompleto. Daí no trabalho você percebe que tem que ir sempre bem arrumado, dar bom dia e ser simpático com todo mundo a todo instante, ser pró-ativo, ser amigável, saber fazer tudo. E se você não fizer isso, nunca crescerá no seu emprego, até porque as pessoas têm um obsessão inexplicável por dar e receber bom dia.
Na vida você é levado a pensar que se você não tiver um emprego que te deixe rico você será um fracassado. Se você não se mudar da cidade em que nasceu, você é um acomodado. Se você prefere ter uma vida simples no campo, você é um atrasado. Se você não tem muitos amigos, você é antissocial. Se você é tímido, trate logo de perder a timidez. Se você 
Ninguém percebe.
Mas a vida toda você é induzido a fazer o que quer que seja. A vida toda você navega por um rio canalizado. Se quer criar, crie dentro dos padrões. Dificilmente teremos originalidade. É tudo cópia e eu, honestamente, já to de saco cheio com isso.