domingo, 23 de junho de 2013

A correnteza

Às vezes eu me acostumo e até nado a favor da correnteza, mas tem sempre uma coisa lá no fundo da minha consciência que fica pululando inconformada com a acomodação. Uma hora essa coisa toma conta de tudo em mim e é nessa hora que ninguém é capaz de me entender.
Tudo me leva a crer que a sociedade em que vivemos hoje tem em sua maioria valores superficiais e passageiros.
Banalização de poetas e poesia, uso de movimentos de cunho social para autopromoção, tendência a se opor a qualquer coisa, superestimação da imagem/aparência, falta de informação numa sociedade de informação, repúdio à inteligência, pseudointelectualismo, preconceitos, conflitos, perda de identidade.
Venho pensando na sociedade atual como uma sociedade sem identidade, porque parece que tudo são cópias. Tudo é intertextualidade, tudo que é bom e é digno de ser exemplar vem do passado. É como se os artistas do passado fossem melhores, como se as revoluções do passado fossem melhores e mais estruturadas, como se as pessoas do passado fossem mais humanas.
Hoje parece que nada é o que parece. Sempre tudo é conotação, tudo está mascarado, nada diz realmente o que pretende dizer. Nada é sincero, e isso me dá um desespero calado. Aquelas pessoas gordas que vivem em cadeiras flutuantes diante de um dispositivo digital no filme Wall-e, é como se fôssemos elas num estado menos avançado. O que a mídia diz a gente faz. Não estou falando só da Globo. É da Internet também.
A Internet, embora menos alienante e controladora, também aliena e controla se não soubermos administrar o poder que ela nos confere e nos impõe. Isso porque na Internet muito se fala, muito se mostra, muito se omite, muito se opina, muito se critica. Essas ações sem um embasamento real se tornam perigosas.
Você nunca sabe se o que estão falando é verdade. É assim nos dias atuais. Nem em fotos se pode acreditar mais, nem em vídeos. O fotógrafo/cinegrafista mostra a imagem que melhor lhe convém, o que lhe chama atenção, aquilo que lhe interessa. Quem vê acaba sendo coagido a pensar do mesmo modo que o sujeito que registrou determinada cena. Isso se não se der ao trabalho de buscar outras fontes.
Às vezes mesmo buscando outras fontes eu me sinto enganada. Acho que é porque meti na minha cabeça que não posso afirmar nem acreditar em nada que eu não tenha presenciado (pessoalmente).
Pode ser só loucura minha, mas parece que o mundo de agora está muito falso, mesmo quando se quer buscar um pouco de originalidade você se pega seguindo uma contratendência, que não deixa de ser uma tendência com objetivos contrários à tendência dominante. Na verdade parece que a maior tendência atual é ser contra a tendência. Confuso? Pense em quantas vezes você criticou o Justin Bieber. 
Daí surge a tendência do pseudointelectualismo. Com a Internet é muito fácil ter acesso a músicas, a resumos de ideologias, de livros, a frases inteligentes de artistas intelectuais, enfim, a coisas realmente inteligentes. Fica muito fácil o sujeito baixar as músicas mais famosas do Renato Russo e sair por aí se dizendo o revolucionário incompreendido, mesmo que na verdade ele não esteja nem perto disso. Às vezes a pessoa acha mesmo que é o que diz ser. Às vezes a pessoa não entende que uma identidade pela metade não sobrevive. Às vezes a pessoa até pode ser o que quer ser, mas na minha opinião isso tem que ser fruto de aprofundamento nas informações e também de atitudes coerentes.
Mas também tem gente que vive de aparência e de consciência superficial. Rezo pra que seja apenas fase. Já conheci um menino que se dizia nazista. Ele tinha uma camisa com a suástica pichada e ele pichava suásticas por toda parte. Esse mesmo menino tinha uma camisa do Nirvana. Alguém me explica?
Penso no mínimo que fosse apenas falta de informação ou vontade de chamar atenção. E também espero que ele tome no cu.
Tem uma frase de uma criança que é mais ou menos assim: "adulto é quem primeiro fala de si mesmo antes de falar de qualquer outra coisa". As pessoas desejam profundamente serem dignas de atenção. E elas falam de suas experiências como se fossem mais importantes que as de outras pessoas. E elas defendem isso até o fim. Acredito que essa carência seja produto das transformações pelas quais a sociedade vem passando. O que acontece é um período de turbulência para chegar a um período de estabilidade. Ou não. Parece difícil com toda a bagunça que vemos por aí.

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