sábado, 28 de janeiro de 2012

A moça triste

A moça triste que agora está parada no ponto de ônibus, certamente há muitas pessoas a sua volta, o horário é cedo, mas é de confusão. Tanta gente e tanto vazio. Tão pouco espaço, mas tanto vazio. E esse dia que não para de chover? O carros passam sobre as poças d'água e quase acertam as pessoas. Escuta-se uma ou outra voz comentar sobre o incidente, um maluco que passa falando com todo mundo, duas garotas rindo e falando alto.
Mas a moça triste apenas questiona-se sobre aonde ir. E agora? O ônibus que passa não é o seu, felizmente ele não demora, mas mesmo se o pegasse ainda não saberia. Como sempre, ela não sabe de nada. E tantos erros, ela pensa que a maioria de seus dias foram felizes, mas os tristes simplesmente a derrubam, e tudo por quê?
Essa moça não é como as outras, e provavelmente ela se vê assim também, diferente. Sente-se mal em público, há algo que ela detesta em estranhos. Há algo em seres humanos que não lhe apraz. Também uma sociedade tão nojenta, quem a julga? Todos, é claro. Pessoas adoram julgar e inconscientemente, ou mesmo conscientemente, elas a machucam.
A moça não é bem moça, ela é mais menina, ela é menina que não quer ser mulher, ela é menina que sente falta dos seus dias de infância, porque ela sabe que crescer dói, e dói demais mesmo. Ela sabe que quando criança se cai de bicicleta e chora por ter ralado o joelho, mas quando é adulto é preciso atingir o coração pra chorar tanto assim. E não é difícil para as pessoas fazerem isso. Ela sente falta da mãe que manda ir tomar banho, e manda ir estudar, e se preocupa com as doenças. Talvez ela sinta mesmo falta de proteção. Porque agora ela tem que se proteger sozinha, e isso é coisa de adulto, mas ela se recusa a crescer.
E em seus dias de sufoco, ela mesmo sem acreditar em religião alguma, se ajoelha e junta as mãos e pede um aliviozinho à virgem maria, pois ela sim acredita em algo maior, mas no que, não sabe. Como sempre, não sabe de coisa alguma.
E pode não saber coisa alguma, mas ignorante não é. No bilhete da sorte repassado leu que existe um caminho que vai dos olhos ao coração sem passar pelo intelecto. Infelizmente há olhos que vão da testa ao queixo, e olhos que vão apenas ao intelecto, e olhos que nem veem coisa alguma além de si mesmos. Ela apenas queria saber definir que tipo de olhos eram os seus, também a cegueira a podia atingir, sabe-se que o coração causa cegueira. E a menina sente demais, sente muito, sente além do que se espera. E às vezes sentir tanto assim não é bom.
Bem, mas ela espera, ela tem esperado muito tempo. Não se sabe até onde correr atrás, até onde se entregar, e o medo do arrependimento, o medo do medo, o medo da dor? O inesperado não pode ser evitado. Mas mesmo assim não tem outro jeito. O tempo só vai pra frente, e mesmo que você estale os dedos com toda a força de vontade do mundo, seus erros não serão apagados, e um momento não poderá se repetir, por mais feliz que ele tenha sido.
Ela só espera aprender a errar menos.

2 comentários:

  1. Carol!
    Que lindeza isso que você escreveu!
    Adorei o:"Há algo que ela detesta em estranhos."

    Simplesmente um fenômeno!
    Parabéns, você vale o coração!

    Beijitos de Luiza!

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